Estreia:
de Pier Paolo Pasolini
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Catálogo/s:
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Clássicos
Catálogo/s:
Itália, 1966, 89', Classificação M/12, Comédia, Fantasia
com Totò, Ninetto Davoli, Femi Benussi
Caprichosa fantasia fílmica sobre cristianismo e marxismo, também conhecida por ser o último filme do bem-amado actor cómico Totò.
Um conto alegórico estreado em Cannes e no qual brilha o lendário Totò com um desempenho memorável. Enquanto se deslocam pela estrada fora e através do tempo, com uma incursão à época de S. Francisco de Assis, Totò e o seu filho (Ninetto Davoli) encontram um corvo falante (e intelectual de esquerda) que os acompanha na digressão e vai comentando as peripécias que se sucedem de uma forma que o torna insuportável, pelo que os nossos heróis serão forçados a tomar uma medida drástica.
Festivais e Prémios:
Cannes Film Festival 1966 Nomeação Palma d’Ouro
Berlin International Film Festival1988
Italian National Syndicate of Film Journalists 1967 Vencedor Melhor Actor, Nomeação Melhor Realizador, Melhor Argumento e Melhor Música
Golden Globes 1967 Prémio Melhor Actor
Golden Goblets, Italy 1966 Vencedor Golden Cup
Ficha técnica:
Realizador Pier Paolo Pasolini
Argumento Pier Paolo Pasolini
Fotografia Mario Bernardo, Tonino Delli Colli
Música Ennio Morricone
Montagem Nino Baragli
Produção Alfredo Bini
Distribuição em Portugal Risi Film
“Como nalgumas peças mais sombrias de Mozart, entramos neste filme sob o signo duma aparente alegria e duma aparente frescura, com esse genérico cantado, porventura o único exemplo dum tal genérico na história do cinema.” João Bérnard da Costa
“Passarinhos e Passarões é uma grande parábola, um filme que diz muito da posição desse intelectual e desse poeta extraordinário que foi Pasolini, alguém que soube ler a nossa modernidade, esta aparência de progresso, de liberalismo, de capitalismo, como uma nova forma de fascismo. Uma provocação que nos obriga a pensar.” José Tolentino Mendonça
Nasceu em Bolonha, a 5 de março de 1922.
Foi espancado até à morte em Ostia, nos arredores de Roma, a 2 de novembro de 1975. Está sepultado em Casarsa.
Em Fevereiro de 1969, escreveu o seguinte texto autobiográfico:
«Nasci em Bolonha. Tenho 46 anos. Sou escritor-cineasta. Depois da universidade, estreei-me com a publicação de um livro de poesia, aos 20 anos. Fui professor de Letras. Dirigi revistas literárias. Escrevi livros. Fiz filmes e acabo de começar uma nova actividade, a de jornalista, colaborando num semanário onde escrevo regularmente uma crónica. Há 18 anos, cheguei a Roma e a minha situação obrigou-me a viver nos bairros pobres da capital.
Traumatizado pela vida dos subúrbios, escrevi os meus dois primeiros romances sobre este tema. Pediram-me, em seguida, para colaborar em argumentos de filmes que tinham como fundo estes bairros miseráveis. Especialmente Fellini, para As Noites de Cabíria.
Em 1961, realizei o meu primeiro filme, Accattone, com desconhecidos. Alguns espectadores fascistas atiraram ovos podres e frascos de tinta para os ecrãs de Roma, durante a sua projecção.
Rodei então, com Anna Magnani e Franco Citti, Mamma Roma; uma queixa, com a intenção de fazer apreender o filme, foi apresentada no Tribunal de Veneza, durante o Festival onde ele representava oficialmente a Itália.
Realizei La Ricotta, um episódio do filme Rogopag, contra o qual uma queixa foi apresentada em Roma, queixa que se apoiava num artigo do código fascista, e o filme foi apreendido. Fui condenado a quatro meses de prisão com adiamento.
No recurso, o Procurador-Geral da República retirou a sua queixa. Diga-se que, entretanto, realizei O Evangelho Segundo São Mateus, que foi escolhido para representar a Itália no Festival de Veneza, onde foi galardoado com o Grande Prémio do Office International du Cinéma. Em Cannes, em 1966, mais uma vez seleccionado oficialmente pela Itália, apresentei Uccellacce e Uccellini, com Totò e Ninetto Davoli, que é o filme de que eu mais gosto, pois é o mais puro e o mais pobre.
No ano seguinte, apresentava no eterno Festival de Veneza Edipo Re, cujo sucesso recebido, tanto por parte da crítica como do público, me encheu de felicidade.
O meu último filme, Teorema, mais uma vez em Veneza, recebeu o Grande Prémio do Office Catholique du Cinéma. Mas, apesar deste prémio, apesar de um acolhimento caloroso e reconfortante da crítica internacional e especialmente francesa (exceptuando a crítica fascista), isso não impediu, mais uma vez, que as queixas fossem apresentadas, sob o pretexto de obscenidade.
Fui julgado em Veneza. Arrisquei-me a vários meses de prisão. Fui finalmente absolvido.
Disseram-me que tenho três ídolos: Cristo, Marx e Freud. Não são mais do que fórmulas. De facto, o meu único ídolo é a realidade.
Se escolhi ser cineasta, ao mesmo tempo que escritor, foi porque, mais do que exprimir esta realidade pelos símbolos que são as palavras, preferi o meio de expressão que é o cinema: exprimir a realidade pela realidade».
Pier Paolo Pasolini, 1969