Estreia:
de Pier Paolo Pasolini
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Catálogo/s:
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Clássicos
Catálogo/s:
Itália, 1962, 106', Classificação M/12, Drama
com Anna Magnani, Ettore Garfolo, Franco Citti
Um retrato neorealista de martírio maternal que marca uma transição na filmografia inicial do subversivo Pasolini.
Segundo filme de Pasolini, com argumento original da sua autoria e uma das primeiras obras do cineasta a retratar os marginais da sociedade italiana. A partir da história melodramática de uma prostituta de Roma que tenta dar uma vida digna ao seu filho, Pasolini constrói um filme com uma extraordinária dimensão poética e social, coroado por uma das mais exímias performances de Anna Magnani. Na altura da sua estreia, Mamma Roma foi proibido em Portugal, ressurgindo nos circuitos comerciais apenas em 1992.
Festivais e Prémios:
Venice Film Festival 1962 Prémio Melhor Actriz e Prémio Italian Cinema Clubs Award
Locarno International Film Festival 1976
Viennale 2011
Berlin International Film Festival 2022
Ficha técnica:
Realizador Pier Paolo Pasolini
Argumento Pier Paolo Pasolini, Sergio Citti (colaboração nos diálogos)
Fotografia Tonino Delli Colli
Montagem Nino Baragli
Produção Alfredo Bini
Distribuição em Portugal Risi Film
“Pelo singular apelo mitológico na representação de personagens marginais, Pasolini foi um cineasta verdadeiramente radical. E num sentido muito preciso: o da celebração do cinema como matéria íntima das raízes da condição humana.” João Lopes
“[A] mais mãe de todas as mães, a nossa mãe, Mamma Roma, de uma espécie de companheiro/mestre imaginário: Pier Paolo Pasolini.” Luís Miguel Cintra
Nasceu em Bolonha, a 5 de março de 1922.
Foi espancado até à morte em Ostia, nos arredores de Roma, a 2 de novembro de 1975. Está sepultado em Casarsa.
Em Fevereiro de 1969, escreveu o seguinte texto autobiográfico:
«Nasci em Bolonha. Tenho 46 anos. Sou escritor-cineasta. Depois da universidade, estreei-me com a publicação de um livro de poesia, aos 20 anos. Fui professor de Letras. Dirigi revistas literárias. Escrevi livros. Fiz filmes e acabo de começar uma nova actividade, a de jornalista, colaborando num semanário onde escrevo regularmente uma crónica. Há 18 anos, cheguei a Roma e a minha situação obrigou-me a viver nos bairros pobres da capital.
Traumatizado pela vida dos subúrbios, escrevi os meus dois primeiros romances sobre este tema. Pediram-me, em seguida, para colaborar em argumentos de filmes que tinham como fundo estes bairros miseráveis. Especialmente Fellini, para As Noites de Cabíria.
Em 1961, realizei o meu primeiro filme, Accattone, com desconhecidos. Alguns espectadores fascistas atiraram ovos podres e frascos de tinta para os ecrãs de Roma, durante a sua projecção.
Rodei então, com Anna Magnani e Franco Citti, Mamma Roma; uma queixa, com a intenção de fazer apreender o filme, foi apresentada no Tribunal de Veneza, durante o Festival onde ele representava oficialmente a Itália.
Realizei La Ricotta, um episódio do filme Rogopag, contra o qual uma queixa foi apresentada em Roma, queixa que se apoiava num artigo do código fascista, e o filme foi apreendido. Fui condenado a quatro meses de prisão com adiamento.
No recurso, o Procurador-Geral da República retirou a sua queixa. Diga-se que, entretanto, realizei O Evangelho Segundo São Mateus, que foi escolhido para representar a Itália no Festival de Veneza, onde foi galardoado com o Grande Prémio do Office International du Cinéma. Em Cannes, em 1966, mais uma vez seleccionado oficialmente pela Itália, apresentei Uccellacce e Uccellini, com Totò e Ninetto Davoli, que é o filme de que eu mais gosto, pois é o mais puro e o mais pobre.
No ano seguinte, apresentava no eterno Festival de Veneza Edipo Re, cujo sucesso recebido, tanto por parte da crítica como do público, me encheu de felicidade.
O meu último filme, Teorema, mais uma vez em Veneza, recebeu o Grande Prémio do Office Catholique du Cinéma. Mas, apesar deste prémio, apesar de um acolhimento caloroso e reconfortante da crítica internacional e especialmente francesa (exceptuando a crítica fascista), isso não impediu, mais uma vez, que as queixas fossem apresentadas, sob o pretexto de obscenidade.
Fui julgado em Veneza. Arrisquei-me a vários meses de prisão. Fui finalmente absolvido.
Disseram-me que tenho três ídolos: Cristo, Marx e Freud. Não são mais do que fórmulas. De facto, o meu único ídolo é a realidade.
Se escolhi ser cineasta, ao mesmo tempo que escritor, foi porque, mais do que exprimir esta realidade pelos símbolos que são as palavras, preferi o meio de expressão que é o cinema: exprimir a realidade pela realidade».
Pier Paolo Pasolini, 1969