Estreia:
de Pier Paolo Pasolini
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Catálogo/s:
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Clássicos
Catálogo/s:
Itália, 1964, 92', Classificação N/A, Documentário
com Alberto Moravia, Cesare Musatti, Lello Bersani
Pasolini veste o uniforme de cineasta de guerrilha, saindo à rua de microfone na mão, para falar de sexo com os seus compatriotas.
Profundamente interessado pelo tempo em que vivia, Pasolini deu com Comizi d’amore um exemplo notável do que se chamava na época “cinema-verdade”. Trata-se de um inquérito sobre a sexualidade, que levou Pasolini de norte ao sul de Itália com o propósito de interrogar intelectuais, operários, camponeses, soldados, burgueses, jovens, velhos, crianças, homens e mulheres, num filme realizado no limiar da grande revolução sexual dos anos 60.
Objecto documental inusitado de um criador eternamente apostado em desafiar os limites e convenções do medium cinematográfico.
Festivais e Prémios:
Berlin International Film Festival 1982
Locarno International Film Festival 1964, 1987, 2020
Chéries-Chéris 2014
Ficha técnica:
Realizador Pier Paolo Pasolini
Fotografia Mario Bernardo, Tonino Delli Colli
Montagem Nino Baragli
Produção Alfredo Bini
Distribuição em Portugal Risi Film
“Não é apenas um filme-ensaio. É também o testemunho de um homem comprometido, de um poeta, sobre uma dramática realidade italiana, dilacerada pela violência, ignorância, hipocrisia. (…) Ele acredita no homem para além da deceção imediata. Acredita no amor e na consciência do amor, na possibilidade que um homem tem de se comunicar com outros homens.” Adriano Aprà
“Não é com redobrada surpresa que ainda hoje vemos os seus filmes-ensaio (…), documentários antropológicos ou inquéritos sociológicos filmados com a delicadeza e a rapidez de quem apenas toma notas?” Jorge Silva Melo
Nasceu em Bolonha, a 5 de março de 1922.
Foi espancado até à morte em Ostia, nos arredores de Roma, a 2 de novembro de 1975. Está sepultado em Casarsa.
Em Fevereiro de 1969, escreveu o seguinte texto autobiográfico:
«Nasci em Bolonha. Tenho 46 anos. Sou escritor-cineasta. Depois da universidade, estreei-me com a publicação de um livro de poesia, aos 20 anos. Fui professor de Letras. Dirigi revistas literárias. Escrevi livros. Fiz filmes e acabo de começar uma nova actividade, a de jornalista, colaborando num semanário onde escrevo regularmente uma crónica. Há 18 anos, cheguei a Roma e a minha situação obrigou-me a viver nos bairros pobres da capital.
Traumatizado pela vida dos subúrbios, escrevi os meus dois primeiros romances sobre este tema. Pediram-me, em seguida, para colaborar em argumentos de filmes que tinham como fundo estes bairros miseráveis. Especialmente Fellini, para As Noites de Cabíria.
Em 1961, realizei o meu primeiro filme, Accattone, com desconhecidos. Alguns espectadores fascistas atiraram ovos podres e frascos de tinta para os ecrãs de Roma, durante a sua projecção.
Rodei então, com Anna Magnani e Franco Citti, Mamma Roma; uma queixa, com a intenção de fazer apreender o filme, foi apresentada no Tribunal de Veneza, durante o Festival onde ele representava oficialmente a Itália.
Realizei La Ricotta, um episódio do filme Rogopag, contra o qual uma queixa foi apresentada em Roma, queixa que se apoiava num artigo do código fascista, e o filme foi apreendido. Fui condenado a quatro meses de prisão com adiamento.
No recurso, o Procurador-Geral da República retirou a sua queixa. Diga-se que, entretanto, realizei O Evangelho Segundo São Mateus, que foi escolhido para representar a Itália no Festival de Veneza, onde foi galardoado com o Grande Prémio do Office International du Cinéma. Em Cannes, em 1966, mais uma vez seleccionado oficialmente pela Itália, apresentei Uccellacce e Uccellini, com Totò e Ninetto Davoli, que é o filme de que eu mais gosto, pois é o mais puro e o mais pobre.
No ano seguinte, apresentava no eterno Festival de Veneza Edipo Re, cujo sucesso recebido, tanto por parte da crítica como do público, me encheu de felicidade.
O meu último filme, Teorema, mais uma vez em Veneza, recebeu o Grande Prémio do Office Catholique du Cinéma. Mas, apesar deste prémio, apesar de um acolhimento caloroso e reconfortante da crítica internacional e especialmente francesa (exceptuando a crítica fascista), isso não impediu, mais uma vez, que as queixas fossem apresentadas, sob o pretexto de obscenidade.
Fui julgado em Veneza. Arrisquei-me a vários meses de prisão. Fui finalmente absolvido.
Disseram-me que tenho três ídolos: Cristo, Marx e Freud. Não são mais do que fórmulas. De facto, o meu único ídolo é a realidade.
Se escolhi ser cineasta, ao mesmo tempo que escritor, foi porque, mais do que exprimir esta realidade pelos símbolos que são as palavras, preferi o meio de expressão que é o cinema: exprimir a realidade pela realidade».
Pier Paolo Pasolini, 1969